quinta-feira, 29 de maio de 2014

Inventário

Já nasce em nosso sangue o gérmen
Da luta: vida x morte & glória
Os dilemas de troianos e aqueus.
Heitor e Aquiles
Falam versos em nosso âmago.
Devedores até o duodeno
A quem quer que seja
A toda tradição
Que resume Homero.

Com vergonha de sentir
Ele criou a máscara
E sentiu tudo de todas as maneiras
Fragmentado exilado no drama luso
Mas acima, o gênio...
Álvaro ou Fernando?
Sentado ao lado de Camões.

É como se abrisse uma fresta
Pela qual se vê o mundo
Sem começo ou fim
Uma biblioteca renovada e ancestral:
E ficamos suspensos no tempo
Quando abrimos um livro de Borges.

Com os versos cheios de lacraus
E imagens inesperadas
Arrancadas com força
Sangue e prata e meninos tristes
Brilho sem termo – Andaluz!
E no inferno ardem
Os algozes
De Federico Garcia Lorca.

Inventor menino
Deu nova cor às vogais
E ímpeto viril à poesia
Rebelde impuro
Vida em alta voltagem
Morreu virgem de sentir a glória
Mas hoje é uma constelação
Que rege o nome Rimbaud.

Outro, não tão menino
Desmanchou a linguagem
como a criança curiosa
Que desmonta um brinquedo
E refez tudo a sua maneira
Hoje todos descobrem
Estupefatos:
A magia de Manoel de Barros.

Bêbado, disse palavras obscenas à musa
Bagunçou a lírica e garatujou em verso
O que era prosa
Mas manteve intacta
A inquietude
O sobressalto
De um quarto pobre
Rico de dilemas e dor
Não se subestima um louco
Corajoso como poucos:
Charles Bukowski.

E meu olhar tímido
Contempla a todos eles
Cada qual com sua nobreza
E eu espero que uma centelha
De cada
Mesmo frágil
Brilhe nos meus versos

Eternamente incipientes.

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