quarta-feira, 23 de julho de 2014

apontamentos sobre a cidade natal

não há escritores no café
não há vida na livraria

tudo está tão novo
e tão velho

cidade na qual
perdi meus olhos
cidade natal onde perdi
minha fé

apesar de suas ostentações
ainda é a minúscula província
no sul do sul

gente obtusa crê
em sangue sobrenome
e cartão de crédito

prédios históricos
e uma biblioteca imensa sobre
prédios históricos

A riqueza é um passado
construído com ignomínia

Já o presente é irrisório
os doutores
legisladores
gestores
florescem sem discurso

o futuro é umidade
e um pássaro de lama
onde a liberdade?

a estética burguesa
romanceada
bajulada
onde o frio
como aparato
artístico?


cidade na qual
estou entranhado
como um tubérculo
cheio de raízes

uma ilha
de asfalto e concreto
sem chance
de comunicação


Nenhum comentário:

Postar um comentário