vende na avenida
bandeiras auriverdes
flâmulas de polietileno
com lucro estimado de
quarenta centavos a
unidade
aos sessenta e cinco anos está
entre os que não deram certo os
que perderam o bonde e
vivem uma existência minúscula
aos sessenta e cinco os
pássaros cagam na sua cabeça a
vida já cagou muito na sua cabeça
no entanto
perdeu o hediondo desespero e a
lesma existencial da autocomiseração
vende, animado,
suas bandeiras descartáveis
sorri para as crianças
velhos
e para os cães e gatos de rua
apto a qualquer tempo - intempérie
mais forte e seguro que o poeta
pretendido
funcionário público misantropo
que não conseguiu publicar seu livro
mais injetado de vontade de
viver que o ricaço
cujas preocupações escabeladas
com suas empresas e status social e
bagos de ouro
lhe deram um caso de depressão
e hipocondria
vende na avenida
bandeiras auriverdes
a vida venha do jeito que vier
ele está preparado
(um dia estaremos)
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