sábado, 5 de julho de 2014

bandeiras


vende na avenida
bandeiras auriverdes
flâmulas de polietileno
com lucro estimado de
quarenta centavos a
unidade

aos sessenta e cinco anos está
entre os que não deram certo os
que perderam o bonde e
vivem uma existência minúscula

aos sessenta e cinco os
pássaros cagam na sua cabeça a
vida já cagou muito na sua cabeça

no entanto
perdeu o hediondo desespero e a
lesma existencial da autocomiseração

vende, animado,
suas bandeiras descartáveis
sorri para as crianças
velhos
e para os cães e gatos de rua

apto a qualquer tempo - intempérie
mais forte e seguro que o poeta pretendido
funcionário público misantropo
que não conseguiu publicar seu livro

mais injetado de vontade de
viver que o ricaço
cujas preocupações escabeladas
com suas empresas e status social e
bagos de ouro
lhe deram um caso de depressão
e hipocondria

vende na avenida
bandeiras auriverdes

a vida venha do jeito que vier
ele está preparado
(um dia estaremos)

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