A
artéria-telégrafo irrompe compulsiva
Devora
nossos lábios no amanhecer: ficamos absortos
Enredados
num novelo de presságios
É a hora do
Leão sem forças ver
O rumo oblíquo
e inevitável da vida
Aquele
maxilar fechado com um torniquete
O deserto
soprando cal virgem
Sal e cinzas
nos olhos
A asa do
corvo é imorredoura e esconde o sol
Para que
seja um dia frio e escuro
Por muito
tempo não haverá dia
Apenas um
relógio de pulso sem pulso
Na areia-lembrança
de uma existência gorada
Há um século
e meio
Que os Lilases
se esqueceram de florir
Mas Whitman
vem me abraçar na hora fatal
Whitman,
Whitman
Um caderno
para apontar
Minha corrosiva
saudade
E todo
cigarro possível
Para queimar
minha língua e pulmões
Jogaram teu
corpo enrolado num pano
Com a aparência
de um cristo sem valia
Numa caixa para
esperar o carro negro
Teu corpo
balançando no carro
Rumo aos últimos
ajustes e pompas para a despedida
O féretro marcado
para as quatro horas
Quatro horas
em ponto quando aeroplanos ficam sem fôlego
E se
desfazem no ar como cera derretida
E uma viúva
olha para o céu sem Ícaro sem esplendor
Lembro a
última vez que teu olhar rejuvenesceu
Lembro a
última vez que teu dedo apontou para o céu
E a música
era teu desejo
E o estrondo
no chão do teu corpo
Cada vez
mais mole e sem fonemas
Agora
Whitman me sustenta
Como um
segundo pai
Imantado no
arvoredo da minha ansiedade
E grita: o
renascido, o renascido!
O Pequeno
Renascido: o nome dele
É a vida que
não se partiu!
Mesmo assim
minhas lágrimas caem quentes
Sob o rosto
de pedra que um dia foi meu pai
A voz e o
nome de Emily Dickinson se libertam do musgo
Sua voz é um
crucifixo trêmulo
Mas mesmo
assim ela diz que ainda existem os barcos
Os barcos e
um mar salgado e imenso
Para um
menino contemplar e chorar sem culpa.
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