quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Um poema para Whitman

Velho amigo Whitman:
Preciso que me ensines o entusiasmo de ver
Como se vê tudo pela primeira vez – a flor os corpos
Os velhos prédios as árvores a maçã
A ferida - toda cartografia da minha América familiar
(Diferente da tua América - da tua América que sonhaste)
E sentir como vida adentrando meu coração

Velho amigo que nunca me conheceste morto em 1892
(Mas que tinhas certeza que um dia eu existiria
e escrevias para mim também)
Me oferta o segredo de amar sem culpa meu corpo  
Elementar com desejos íntimos
Preciso que me ensines a amar os homens mulheres e as manhãs
Com suas qualidades defeitos e palavras oblíquas

(Um grande amigo me comparou a ti, meu velho irmão
Mas sei que sou incompleto falho e preciso muito
Em noites de insônia
Ler Os Cantos de Mim mesmo
Para compulsar em paz meu hoje de apontamentos
Planejar minha força
Aprender a simplicidade de uma alma nua despida de mágoa e rancor )

Velho amigo, irmão:
Demonstra com tua voz gasta e lúcida
A simplicidade da poesia nos teus cantos
O abraço e o afeto sincero de um homem sem ambições mundanas
Me faz acreditar nas crianças que nos tratam
Como coisas obsoletas sem valor
Me dá a coragem de aceitar que sou quase esquecido
Pobre e nunca verei a glória
Mostra-me que a glória é nada
E o que se sonha na solidão é tudo

Meu amigo
Que adentraste em mim na minha barba gris
Quero o poder dessa simplicidade
Pois tuas folhas são minha bíblia epos amuleto
E minha força de continuar escrevendo

Tuas folhas despertam em mim a qualidade natural do amor
Tuas folhas despertam em mim a resignação de seguir
Mesmo tendo poucos ouvidos para me ouvir
E sabendo que assim está certo

Ah, essa força de escrever para todos que dormem,
Todos que acordaram às 5 da manhã
Todos que sofrem nas repartições públicas
Todos que catam lixo todos que sentem frio
Todos os ricos que desconhecem suas almas
Não sabem o que é ter uma alma
Para os professores que não são valorizados e também são poetas
Escrever para todos mesmo que minhas palavras soem
Dentro de uma caverna ou num pequeno quarto em Camden

Eu podia seguir qualquer outro caminho
Mas sigo a poesia -  única força que me move 
A poesia que começo a escrever
Quando a chaleira anuncia o café da manhã.


Nenhum comentário:

Postar um comentário