Todos
os mísseis e todas as doenças e pestilências
E
todas as inquietações noturnas - ratos no forro
Cobras
corais no travesseiro - apontadas em minha direção
Eu
sentirei saudade de ser um esqueleto branco e curvo
Sentirei
profunda saudade dos blocos de pedra
Da
gravata com nó górdio me sufocando para o bem da humanidade
Será
que fui eu o estopim dessa explosão de fratura e tempestade,
De
mágoa, silêncio? Eu queria apenas o esboço desse oásis anunciado
em
prospectos
Um
grão de paz para poder deitar e acordar sem culpa
Mais
gelo para este uísque, que a noite é longa
E
o fígado frágil e o abutre traiçoeiro
E
nossas mães já não têm lágrimas e mãos para tanta terra
Eu
desmontei as pirâmides, envenenei as nuvens
E
criei uma chuva cáustica para desgraça dos rostos
E
um método inédito de envelhecer fora dos espelhos
Eu
pedirei um escudo, armadura, entrarei em desespero
Verei
a campa, rezarei pelos mortos nas fotos antigas
E
hei de morder os relâmpagos com a ânsia de um pai ausente
Quem
disse que é fácil mentir e fingir
Quando
não se é ator. Somos menos que albatrozes
Um
rifle engatilhado contra o próprio crânio para uma beleza póstuma
E
o medo de ferir mais alguém com lábio sulfúrico
Fecho
a tampa de ferro da lua acendo o charuto
E
carbonizo meu tempo: apartado sou inofensivo.
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