sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

ENSAIO ACERCA DA TEMPESTADE


[I]
Sem luz elétrica
Ouço os estrondos
Dos relâmpagos.
Na escuridão
Que se sobressai em mim
Tudo é vasto,
Sem limite.

[II]
Despido da domesticidade,
Despido de erudição,
Despido de pudor.
A tempestade cinza
Me pertence
Como instrumento
Que há de elucidar
O códice do tempo.

[III]
Perfurar o vento:
Adentrar
Na solidez do vento
Como se fosse
Uma gruta.

[IV]
Perfuratriz,
Broca de carbono;
Ver a procela
Em seu âmago:
Metamorfose
Álgida de véu
E prata.

[V]
O vidro maleável da chuva:
Quebrá-lo com a silhueta,
Correr, correr
Até onde a água é dura e pesada
E meditar;
Descompondo o corpo
Descompondo o pensamento
Na consubstanciação líquida.

[VI]
Sou a natureza
Em grito, aferro;
Não sou meus ossos
Gastos da coluna vertebral;
Sou a natureza,
Penetro no íntimo da guerra
Fera de estampidos
E erupções dos céus.

[VII]
O Butano ilumina o ventre de cal
A casa tem forma de concha;
O desgaste natural das paredes
E a umidade
Mostram formas irregulares
Mas com sentido claro.
Volto do cerne
Da esfera e da procela
Com olhos imantados
De novas visões.

[VIII]
O telhado estrala,
As janelas estremecem
O som retido
Na polpa dos ouvidos
E na pirâmide
Do entre objeto
Decodificado.

[CODA]
É preciso que a tempestade
Se estenda ainda alguns dias
Para que eu sinta saudades do sol
Pois não posso morar dentro do sol
O sol é agreste
E até hoje só me fez envelhecer...
Por ora moro na procela
Por ora me confundo
Com ela
E estou feliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário